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Foto do escritorRodrigo Souza

Atletismo


Dia desses eu estava despetalando a flor do meu dia. E enquanto pensava em ti, me dei conta que sabia repetidas vezes finalizar no bem-me-quer. Tenho a impressão que nada, nem o teu desprezo, me faria querer-te mal. Nem querer-te mais. Nem querer-te menos. 

Saberia até, num jogo qualquer, cair teu bicho. Saberia até, num lance qualquer, bingar teu ponto. Saberia até, numa partida qualquer, sortear teu número. Eu, bicho, nos teus pontos, na sorte de ser teu número. Somos bons apostadores. E melhor. Somos exímios jogadores. Lançadores. Somos olímpicos na imediata explosão do tiro de cem metros. Somos aquele músculo saltado do atleta. Somos as veias pulsantes na testa suada de uma medalhista. Somos o grito daquele que gira o peso do martelo. E ao soltar os dedos, aquele peso, aquela ferragem e ferrugem, voa. Voa como se nada fosse. Sem peso. Até o momento do impacto. O momento que a densidade do ferro, soando grave, na grama verde, fere o chão como sempre nos fazíamos um ao outro. Somos essa dor terrena. Somos essa ferida no chão. Que logo se arbitra, mede extensão, o quão longe foi. E ao atleta, gozo. E à torcida, recorde. E recordam. Recordo. Como se fosse hoje. Eu indo te encontrar. 

Como era feliz o meu dia quando sabia que te encontraria. Quando distante eu te via. Quando de perto eu te enxergava. Nua como nunca. Uma seriedade imponente. Ainda que tudo em ti fosse sofrer e sorriso. Era séria. Concentrada. Como um juíz. Como uma atriz. Quando fazia o papel de um mal-me-quer.

Dia desses eu estava despetalando a flor do meu dia. E enquanto pensava em ti, me dei conta que sabia repetidas vezes finalizar no bem-me-quer. Tenho a impressão que nada, nem o teu desejo, me faria querer-te mais. Nem querer-te mal. Só querer-te aqui.   

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