Te calei uma vez, pois tu dizias que já havia sentido amor demais. Já havia alcançado tudo quanto às sensações e aos arrepios que só se sentem pouquíssimas vezes, e isso quando a sorte venta fininho como sussurro no ouvido.
Muitíssimos passam pela vida sem sentir sequer uma única vez que alcançaram um amor tão bom e universal, criado a partir de uma explosão e crescente eternamente até o colapso.
Um amar cheio de um amor nivelado, equânime, consonante, consoante e em paridade, de igual pra igual. Um amar arterial. Fluxo contínuo.
Um amar cheio de nutrição mútua.
Via de mão dupla.
Um par em compasso ímpar.
Um amor que oxigena o amor muito próprio do outro teu,
e muito próprio de ti mesma, por si, o amor meu.
O meu amor ainda.
Sendo todo teu.
Não queria te calar.
Muito pelo contrário.
Tu sabes. Queria eu estar muito mais que errado,
erradíssimo.
Desde o princípio.
Muito me dói ter tido alguma razão.
Calada tu permaneces até hoje, justamente por não haver o que dizer quanto ao teu engano. Aos vossos enganos.
Mas amo até teu silêncio.
De alguma forma sei que ele é amor.
Um dia seremos a mitologia de uma outra civilização.
Seremos talvez uma fábula, um mito de um outro povo. Quem sabe não seja assim que todas as lendas tiveram surgimento.
De tempos em tempos a humanidade esquece a origem das histórias de amor e chamam tudo que não lembram de “lendas”.
Quem sabe, um dia, o ciclo de vida na terra não seja interrompido, quando todos nós, enfim, lembrarmos da origem de todas as lendas. E daí, entendermos que a origem de tudo é o amor. E só aí, ainda, muito tardiamente, compreender o porquê de existir um deus que se diz o próprio amor.
Se deus é o amor, que no fim possamos ter a crença de que quem ama alcançou o “paraíso”. Um ciclo.
De lembrar e esquecer das lendas. De lembrar e esquecer o amor.
Quem sabe será a lenda do amor que muito sabia amar.
Eros e Psiquê
Apolo e Dafne
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