Não consigo dormir. Tem sido muito difícil dormir sem tomar algum remédio. Eu nunca fui muito bom de dormir. Nunca foi algo fluido. Invejo quem consegue deitar e dormir em minutos.
Hoje tem a coisa do estímulo. A luz branca do celular deixa o cérebro achando que está em plena manhã de quarta-feira chegando perto do almoço.
Esse vírus mexe com a gente mesmo sem tocar a tua imunidade, né? Ele longe do teu organismo consegue te atingir. É um vírus, com o perdão da expressão que não cabe num lugar textual de tanta elegância como este, filho da puta.
Fiquei pensando o motivo, para além do óbvio da doença perigosa, que faz esse vírus provocar esse efeito em quem nem foi afetado por ele diretamente. Tudo tem muito a ver com o medo e a insegurança que ele impõe. Conversava hoje com uns amigos (via aplicativo de mensagens) sobre o medo ser a raiz de muitos problemas. E o medo me parece ser a raiz da minha insônia. Medo de pegar o vírus e morrer. Medo de alguém que amo ser infectado. Medo de alguém próximo morrer. Medo do desemprego. Medos. Vários.
Que insegurança. É muita insegurança. Logo nós, tão seguros. Tão certos de que tudo estava sob controle.
Logo nós que sabíamos o que iria acontecer amanhã no trabalho, e depois do trabalho quem eu encontraria e o quanto seria legal. Logo nós que tínhamos hora pra sair e chegar, sempre seguros. Não havia ameaça contra as nossas vidas o tempo todo. Não havia um vetor invisível rondando a nossa vida segura. Logo a gente!?
A vida estava tão segura, amigos. E chegou esse vírus. E tirou toda nossa segurança. Logo nós que sabíamos que no dia seguinte, cheios de vida, levantaríamos da cama e viveríamos a segurança diária, certa e firme de uma sociedade sob controle, equilibrada, protegida das ameaças mortais, da ação violenta, dos apuros hodiernos e de cronogramas tão bem ajustados.
Logo nós, amigos. Que estávamos tão seguros.
Estávamos?
Era sonho?
Não fale em sonho para quem não dorme.
O que mudou se sempre fomos ameaçados todos os dias?
Comments