Não há poema sem musa
Assim como o galo não tem manhã que o confunda
Assim como a dor que de tanto doer se torna profunda
Assim como a cor que se vê é como o som que se escuta
Não há poema sem musa
Assim como não há orquestra que não se conduza
Pois está tudo sob a poderosa, áspera
e um tanto obtusa
A mão humana,
a coisa inconclusa
Que segura o ferro e deixa a areia escaldante
levar-se por léguas ao se precipitar da falange
Não há poema sem musa
Assim como o seio faz bem a quem os segura
Assim como a carne exala tentação na fervura
Assim como o rio acaricia a própria pele
com os pingos da chuva
Não. Há. Poema. Sem. Musa.
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