- Eu acho que ele já não tem condição de seguir liderando
- E eu tenho certeza disso.
- Vamos esperar essa situação do Grécia se resolver. Disse Fernanda Delfino.
De todos, talvez, ela seja a mais inescrupulosa. Vittoriano não é capaz de negar nada para ela. Os demais do grupo não a suportam, mas sabem bem que a próxima posição dela no grupo é a da liderança. Ela é dona de várias lojas em mais de 12 cidades no país inteiro. Seus preços são absurdamente abaixo do mercado. Ela levanta suspeitas, mas ninguém consegue ter provas sobre nada. Ela é invisível ao sistema, às investigações e autoridades. Ela liga para Rayol, que na presença da filha fica monossilábico.
- Resolver isso logo, Rayol. Ou eu acabo contigo.
- hunrum... Certo. Eu vou avisar sim. Um abraço pra você também, querido – ele disfarça para que Sofia não desconfie.
Pai e filha conversam sobre amenidades. Da boca sai assuntos leves, na mente de ambos tudo é obscuro, tudo é tensão. Sofia por vezes parece que vai perguntar algo e desiste. Ele percebe e seu coração acelera. Por vezes quando se quer dizer algo que dentro se debate violentamente, causando ansiedade, fica uma atmosfera densa, o ar rarefeito. Parece que as palavras exalam suas intenções. O discurso é o silêncio delas até que não se suporta mais.
Enfim ela inicia.
- Pai. O senhor conhece aquele fotógrafo que foi morto dias atrás?
- Vi no noticiário - diz sem parecer afetado. Era um rapaz muito talentoso, pelo que vi.
Ela silencia olhando para baixo. Chega apensar que não deveria mais dizer nada.
Já ele, não arrisca perguntar o motivo da questão. Ela enfim prossegue.
- Eu acho que cruzei com ele no dia em que foi alvejado. Minutos depois ele foi morto. Fiquei com aquilo na minha cabeça.
- É marcante ver alguém vivo que momentos depois tem sua vida tirada assim. Mas pelo que ouvi ele estava armado indo para o pronunciamento do presidente.
- É.
- Que bom que ele não fez nada com você. Não se sabe o que se passa na cabeça dessas pessoas...
- Eu ainda tentei ajudar. Mas não havia mais nada a fazer. Ele... ele me deu um bilhete.
Nesse momento Rayol emudece. Pergunta vacilante: Um bilhete? Que bilhete?
Ela pega em sua bolsa e mostra para o pai que vê seu nome e dos demais do grupo e mais dois nomes desconhecidos para ele.
- Eu não entendi.
- Nem eu, pai. O senhor nem imagina o que seja?
A conversa não encontra conclusão. Ele se compromete a procurar a polícia para esclarecer. Sofia não fica confortável com a ideia, mas nada mais pode fazer. Rayol desce e vai caminhando rapidamente para seu carro. Yuri, que aguardava lá embaixo nas proximidades, liga seu carro e o segue. O destino de Rogério Rayol é a casa de Tadeu Rocha. Tadeu é dono de 5 restaurantes na cidade. Sua casa sempre serviu como célula do grupo. Yuri estaciona distante. Faz fotos.
Um carro também estaciona um pouco mais adiante do carro de Yuri, mas ele não nota, está concentrado nos enquadramentos das fotos. Um terceiro carro, todo preto, encosta quase sobre a calçada no lado oposto aos dois carros anteriores. Parece que mais pessoas estão suspeitando de Rayol ou de Yuri. Não é raro casos de campanas de campanas. O difícil é saber quem é quem. A visita de Rogério se estende por muito tempo. Em todos os carros envolvidos não se vê movimentação. Talvez no fiat uno de Yuri. Mas todos estão imóveis esperando algo que ainda não está claro.
- Alô.
- Onde você está?
- Aguardando ele sair
- Ok.
Depois de uma monótona espera, todos os observadores notam a saída de Rogério da casa. Yuri faz suas fotos. O carro um pouco mais atrás do de Yuri aciona a ignição. O terceiro carro tão misterioso quanto este, já inicia uma leve manobra.
Rayol segue em direção ao norte. Os três carros também.
Todos percebem que não estão sozinhos na caçada. Todos percebem a movimentação atípica. Rayol também.
Tudo acelera do coração aos motores dos carros.
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