Era noite de sol quente
Dia vívido, hora fervente
De perseverar depois de tanto
Cair no engano da serpente
Era dia de lua fria
Era o campo um continente
Da sentença ao desencanto
Eu era filho, hoje parente
Era um deus onipotente
Se escondendo, onipresente
Nos ofertando os sabores
À um explorar inconsequente
Era jardim de tantas flores
Uma delas, um presente
A chamei de minha Eva
A primeira sorridente
Era de tudo bem servido
E sobremodo envolvente
A começar pelo perigo
Da árvore que tudo entende
Era um pai dizer ao filho
"Se contenha, ser vivente
Aquela árvore é perigo
Tens as demais, tu te contentes!"
Era um ser tão intrigante
De um rastejo deslizante
Nos parecia coerente
O que dizia era instigante
“Ora, tudo proves, ser vivente
És recente e ignorante
Se tantos frutos tens aqui
Por que deixar só essa distante?"
Era melhor fingir não ouvir
Fui para Eva reticente
Sua coragem se impôs
Provou do fruto sapiente
Era um rosto atraente
Enquanto o gosto, envolvente
E diferente do escrito
Eu não era inocente
Eva levando toda culpa
Me sinto assim um decadente
A verdade é que provei
Mais de uma vez o fruto ardente
Era aquela a quinta vez
Comi bem antes que o descrito
Quem simulou voz de serpente
Fui eu, Adão, que os suplico
Esqueçam o conto do jardim
Ele não deve ser entendido
Como história de se crer
Mas um poema mal escrito
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