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Foto do escritorRodrigo Souza

Rascunho nº 5




É virtuoso perder. É mais virtuoso do que ganhar. Tanto é que, dilmisticamente falando, quem ganhar ou quem perder, não vai ganhar nem vai perder. Vai todo mundo perder. Ou ganhar. Não lembro. 


Vou começar de novo. 


É virtuoso perder. É mais virtuoso do que ganhar, pensava eu ainda agora. Tenho sido engrandecido pela vida, privilegiado, honrado por hoje ser muitíssimo virtuoso, pelo tanto que perco. Esse pode parecer o enunciado de um pessimista, mas não é.


Sobre derrotas, entendo bem. Você que se propõe a vir aqui seja lá por qual motivo, não vá pensando que se trata de um leigo. Sou perito no assunto. Você não está lendo um qualquer. Eu perco MUITO BEM. Falo com o máximo orgulho. Sou, sim, um bom perdedor. Sei reconhecer uma derrota de longe. E acho isso admirável. Acredito que se “perder” fosse um poder de série mutante, seria o mais útil x-men. 


Saber perder bem é tão importante quanto saber ganhar. Perder “bens” é um outro tópico, não quero falar disso hoje. Mas retomando. Eu observo em mim uma maestria no que diz respeito a pequenos tropeços e grandes derrotas. Daria até um bom programa de televisão. Afinal, hoje, com o neoliberalismo roendo nossa alma, arrancando até o último fio de cabelo da classe trabalhadora, somos empresários de nós mesmos, não é mesmo?

Não tenho como deixar passar certas oportunidades de atenção. Eu precisava aproveitar que você chegou até esse ponto do texto esperando algo legal de se ler. Mas eu queria só dizer que: não há saída sem consciência de classe. E, sim, a gente precisa reagir.


Vou retomar. Dizia eu que sei perder. E perdi tanto depois que passei a ouvir menos a voz de quem eu amo. O cheiro de quem eu quero bem. Saber notícias de quem tenho paixão. Mas, acolhi mais uma derrota. A verdade cortante, fria e impiedosa é que a vida é assim mesmo, repleta de derrotas. E não, não estou falando de pessimismo, senhoras e senhores. Estou falando de aprender a engolir à seco a pílula da realidade. Cai como uma bigorna dentro do seu estômago. Um soco invisível. Difícil de não se curvar e cair recolhido à sua total vulnerabilidade. A vida é a própria sentença do pecado humano. A vida é cruel de tão crua.


Deixo pra agora o que eu queria dizer na realidade desde o princípio. Saímos do ventre de nossas mães primeiro com ódio. O desconforto de ter tanto espaço. A agonia de sentir o pulmão sendo preenchido pela primeira vez. O grito, o choro, aquilo significa, naquele dado momento, sentir-se no mundo pela primeira vez. E essa é a nossa primeira derrota. Perdemos pela primeira vez na vida.


Daí em diante, muitas vezes, você vai voltar a “sentir-se no mundo”. E vai chorar. Vai doer. Vai inflar. E aí, só depois dessas dores todas, vem a ternura de um afago que te materna. Só aí é que conhecemos a paz. Esse intervalo que alguns chamam de felicidade. Esse suspiro entre afogamentos.

Portanto, digo a todas as pessoas que amo: os amo.

Digo a todas as minhas paixões que quero: as quero.

E digo a todos que perdi: os perdi. E lamento reconhecendo mais essas derrotas. Pois as sei muito bem como, quando e onde doem. As abraço.  

             

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