É um desperdício ser obrigado a substituir o amor pelo desejo de que morra em mim qualquer lembrança. É ver definhar e ir minguando a raridade de um amor nocivo, mortal, e lindamente desnecessário. Ver ir sorvendo dessa planta que nasceu fora do tempo, nasceu sem vaso, de uma fresta, uma rachadura na parede e cresceu frondosa sem cuidado algum de jardineiro, uma essência gostosa de fragrância mortal. Podre de beleza. Rica de uma pobreza singela. Simplesmente nasceu robusta como se tivesse planejado. Que desperdício é ter que passar com displicência o fio de uma faca no tronco de uma desgraça tão bonita.
Só há uma forma de que não prospere folha alguma - a demolição do prédio inteiro.
Demolir um prédio inteiro por causa de uma praga tão singela, tão formosa e cheia de saúde. É tão urgente que essas cores impossíveis parem de refletir luz. É crítico o que essa paz assustadora nos oferta. Nos assalta de prosperidade. Nos toma entregando tudo o que muitos perdem a vida a procurar. Que morte terrível é ver a vida florescer assim, maldita. Uma desgraça tão bonita.
Maldito deve ser o pólen dessa praga. Deve obstruir de tão doce o bico do beija-flor encantado, ave ignorante que se nutre de um monumento inútil. Deve drogar a abelha. Sua poda deveria ser à fogo. Seria mais seguro queimar o prédio inteiro. O prédio inteiro por causa de uma beleza tão completa e cancerígena. Urge destruir as paredes desse prédio para que jamais cor alguma continue a existir, cheiro algum exale, nada que lembre tão frondoso pecado em forma herbórea. Uma planta inútil, que não serve nem de lenha. Uma desgraça tão bonita.
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